Polaróides (2014)
THIAGO CORRÊA – Desde 2009, você vem produzindo e publicando textos no seu blog, Vodca Barata, e parte desse material está no livro. Como foi esse processo de seleção para compor Polaróides? O que te guiou, que critérios vocês usou para fechar esse conjunto de textos? Foi preciso fazer alguma adaptação, já que – livro e blog –são dois meios diferentes?
ADELAIDE IVÁNOVA – Eu preciso dizer que o blog existe desde 2005! Era bem na linha Sex and the City, que eu analisava minha vida amorosa e dos outros (hahah) em Recife. Mas em 2008 eu tive uma depressão grande e tirei o blog do ar. Quando voltei a escrever, em 2009, já não queria falar das mesmas coisas, e por isso apaguei tudo, pra começar tudo de novo.
Na curadoria para o livro, o critério principal foi o conteúdo imagético – para mim foi muito importante manter esse foco, porque às vezes a gente se apaixona por um texto e quer vê-lo no livro, mesmo quando não cabe. Houve adaptações, claro, mas mais filosóficas do que práticas. Eu queria que o livro tivesse a ver com minhas preocupações da época da edição, e não com as preocupações que estava tendo nas épocas da escrita. Então algumas coisas foram adaptadas, menos pensando nas diferentes mídias (até porque é um e-book) e mais em quem eu sou atualmente (não que eu saiba direito quem eu sou haha).
TC – A primeira parte do livro é composta por textos mais curtos, aforismos, flashes de cotidiano e pequenas reflexões; enquanto que a parte final traz quatro textos mais longos, crônicas mesmo. Por que juntar esses textos de formatos tão diferentes num mesmo volume?
AI – Isso foi ideia de Schneider Carpeggiani, uma decisão estética bem importante. O livro já nasceu se chamando polaróides, pelo seu conceito, que era o de reunir essas “fotos” em pequeno formato. Mas aí Schneider veio com a ideia dos copiões. Um copião, em fotografia analógica, é o termo que descreve um print que reúne todas as imagens de um filme. Num mesmo filme pode haver imagens de várias situações diferentes, e um copião acentua essa discrepância – principalmente na fotografia “amadora”, do dia-a-dia, que é afinal as coisas sobre as quais escrevo. Então os textos maiores seguem esse critério da busca pela imagem, mas imagens mais caóticas, mais diversas, como é um copião.
TC – Queria que você falasse sobre a influência do seu trabalho como fotógrafa na hora em que você decide escrever. O que aproxima e o que diferencia esses trabalhos?
AI – São processos completamente diferentes. Escrita é uma mídia completa, perfeita – no sentido de que tudo é possível ser feito na hora de escrever. Já fotografia é uma mídia controversa, cheia de falhas – você trabalha sobre outras bases, trabalha com as limitações da mídia. Existem temas que eu preciso resolver, que só posso resolver escrevendo – geralmente as coisas que vejo no mundo. E existem coisas que só posso resolver – as coisas que sinto – procurando por seu equivalente físico, no mundo externo, fotografando-as. Ninguém precisa fotografar as coisas que já existem. Nem ninguém precisa escrever sobre sentimentos, pelamordedeus.
TC –Ao ler o livro, fica-se com a impressão dele ser composto por relatos bem pessoais, com fatos do cotidiano, dúvidas íntimas. Você considera Polaróides um livro de ficção?
AI – A única hora que a vida não é ficção é na hora que ela está acontecendo. Se hoje às 18h eu contar como foi meu dia pro meu namorado, já é ficção – eu vou esquecer umas passagens, acentuar outras, inventar uma frase que ninguém falou, esconder que paquerei com o homem da banca de frutas etc.
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