Cresci sob a nostalgia de importância. Seja por conta das aulas de História onde aprendemos a exaltar o passado glorioso pernambucano, pelo pé direito imponente dos sobrados do Recife Antigo, pelo tom imperativo dos nossos coronéis ou pela altura dos edifícios à la Dubai; o fato é que crescemos acreditando que somos realmente importantes, fazemos parte do jogo, vestimos a camisa com a bandeira de Pernambuco, amanhecemos o ano-novo ouvindo frevo e batemos no peito dizendo ter orgulho de ser nordestino. Mas como bem diz o ditado “vão-se os anéis e ficam os dedos”: lá se foram os holandeses junto com a pujança da cana-de-açúcar e o que nos restou foi apenas os superlativos. Hexa é luxo! O maior shopping center da América Latina! A primeira sinagoga das Américas! A maior avenida em linha reta do mundo! O maior bloco de carnaval do planeta! O jornal em circulação mais antigo da América Latina!
Na adolescência, contudo, isso se converte em frustração quando constatamos que o Recife está fora da rota dos shows internacionais, das grandes exposições, dos principais eventos esportivos e das melhores peças de teatro. A mania de grandeza a que fomos acostumados parece potencializar os efeitos da nossa constatação de periferia. É como se o que realmente importasse no mundo só acontecesse pela televisão e o que nos restasse fossem artistas em decadência, plagiando de si mesmos sucessos de outrora. E mais, de repente ficamos adultos e percebemos que a situação é ainda pior, os melhores salários e empregos também estão lá fora, dando início a um processo de migração de amigos rumo ao Rio e a São Paulo. E assim, Recife se transforma no umbigo do mundo, na Hellcife, Recifezes e Recife-fede.
Mas nada como a mudança para nos dar uma nova perspectiva. Hoje, morando em Ouricuri, onde não há mar, paisagem, biblioteca ou livrarias, o único cinema está fechado e o teatro em reforma; finalmente percebo que o Recife é, sim, um grande centro. No entanto, na tranquilidade de um lugar onde a maior expectativa de um feriado é comer um churro e assistir ao desfile de bandas marciais pela rua, tenho descoberto o preço dessa sede recifense por ser metrópole e hoje me pergunto se vale a pena voltar a morar numa cidade onde o cálculo de uma hora de antecedência nem sempre garante pontualidade, onde você tem receio em atender ao telefone na rua por medo de assalto e a chuva não é sinônimo de alegria, mas motivo de preocupação.