Não havia mais esperanças. Geovani olhou para o céu desazulado e começou a chorar. Então, era só isso? Assim? Sem direito a questionar, protestar, revidar, gritar um NÃO bem alto?
Era até engraçado ver todas aquelas pessoas correndo de um lado para o outro, sem direção; outras tantas simplesmente prostradas no chão, molengas, como se fossem feitas de pano; claro, havia algumas vociferando, punho em riste, os dentes à mostra e olhos vermelhos, soltando palavras desconexas de revolta.
Mas a maioria das pessoas simplesmente estava parada, contemplando aquilo que prenunciava o fim. Geovani era uma dessas pessoas. “Pra que correr”, pensava ele, “se o final da história está claro para mim?”.
O que mais chamava a atenção era a cor do céu. Geovani, homem das imagens, preferia pensar naquilo como uma não-cor. Por mais que se esforçasse, não conseguia reconhecer aquela paleta. E isso era a prova definitiva de que aquele fenômeno não era deste mundo.
Outra coisa engraçada era que não havia som. Isto é, o barulho ao redor era caótico – pessoas gritando, buzinas, colisões, alarmes… mas havia um silêncio emanado por trás do que estava provocando todo aquele caos. Onde estavam os trovões, os raios ou o som grave de um órgão anunciando o fim, coisas comuns em filmes-catástrofre?
Geovani interrompeu suas divagações estéticas. Olhou ao redor, desolado. Pra que correr, afinal, se tudo estava evidente?
Então, de repente, a gigantesca mão que surgiu no céu tingindo-o de cores inexistentes se moveu.
Houve um silêncio brusco. Cessaram os gritos, os choros, o clac-clac dos sapatos no asfalto. Todos ficaram com se tivessem sido congelados. Na mão descomunal, os dedos começaram a se fechar, lentamente. Apenas um permaneceu estático.
Quando o movimento cessou, havia um dedo indicador apontando para as pessoas. Era um dedo inquisidor, opressivo, quase como se tivesse uma expressão desenhada em sua ponta. E apesar do seu tamanho, parecia que ele apontava particularmente para cada uma das milhares de pessoas que o fitavam naquela manhã ensolarada de sábado de carnaval no Recife. Geovani chorava. Seu peito estremecia com os soluços. Não conseguia desviar o olhar daquele dedo que apontava acintosamente para ele.
Geovani ficou de joelhos, juntou as mãos em prece e pediu perdão.
Em todos os cantos do planeta, bilhões de pessoas faziam o mesmo.
Impassível, o gigantesco dedo escrevia o capítulo final da história da humanidade sobre a Terra.
Bruno Alves nasceu no Recife-PE, em 1965. É arte-educador e professor da UFRPE. Tem contos publicados no seu blog Macaxeira Geral (www.macaxeirageral.net.br). Colabora com o blog Geek Café (www.geekcafe.blog.br) escrevendo sobre quadrinhos e cinema e participa do podcast Geek Café FM.