De minha avó
Uma forma de amassar o alho
De sorrir entre os escombros
De alternar a incoerência dos dias.
De meu pai
Silêncios atemporais
A respiração entrecortada
E movimentos bruscos.
De minha mãe
Uma forma de estudar as mãos
Como quem joga uma toalha limpa
Numa mesa antiga.
Do meu avô
A busca de algo sem nome
A fronteira apagada num sopro de Deus
O sorriso escorregando
Para um canto da boca.
O gosto pelo infinito
Um horizonte maduro por chegar.
Mas longe e efêmero
Como as grandes esperas
Como um futuro sem nome.
Samarone Lima nasceu no Crato-CE em 1967 e mora no Recife. É jornalista e escritor. Publicou os livros Zé (1998), Clamor (2003), Estuário (2005), Viagem ao Crepúsculo (2009), Tempo de Vidro e A Praça Azul (2012) e O aquário desenterrado (2013), pelo qual recebeu o Prêmio Alphonsus de Guimarães.